Médicos brasileiros estão mudando o tratamento do Mal de Parkinson

05 abr | 13 minutos de leitura

A história dos brasileiros com a saúde é antiga. Muitos nomes do nosso país contribuíram para alguma área da medicina com tratamentos e aparelhos que revolucionaram procedimentos e são aplaudidos em vários países do mundo. 

Mas um casal de médicos, em particular, está revolucionando o tratamento do Mal de Parkinson. Mas existem outros médicos que colaboraram com a história da medicina mundial.Medicina - Antônio de Salles e Alessandra Gorgulho criaram o marca-passo cerebral

Médicos brasileiros estão mudando o tratamento do Mal de Parkinson

 

Antônio de Salles e Alessandra Gorgulho

Um dos grandes desafios da medicina atualmente é desvendar o cérebro. O médico Antônio Afonso Ferreira de Salles e a neurocirurgiã que também é sua esposa, Alessandra Gorgulho, contribuíram criando o marcapasso cerebral, que revolucionou o tratamento da obesidade, bulimia, anorexia, do mal de Alzheimer, do Mal de Parkinson e há estudos que ele auxilia no tratamento da depressão.

O casal já tratou cirurgicamente mais de 1.000 pacientes com doenças funcionais do cérebro e mais de 8.000 pacientes com tumores cerebrais ou da coluna.

Ambos construíram uma longa e respeitada carreira em diversas faculdades dos Estados Unidos, como a Universidade da Califórnia (UCLA). Em 2012, eles voltaram ao Brasil e a convite do Hospital do Coração (HCor), deram continuidade ao estudo com marcapasso.

A implantação do marcapasso é feita por cirurgia. São colocados eletrodos no cérebro ligados ao marcapasso, que fica sob a pele na altura da clavícula. Eles são ligados por um frio, chamado de extensão, também sob a pele.

Essa é uma alternativa para pacientes com sintomas em estágios moderadamente avançados (geralmente cinco a dez anos após o diagnóstico). O equipamento é semelhante ao marcapasso cardíaco: é pequeno e funciona com impulsos elétricos localizados. Ele age sobre áreas do cérebro afetadas pela doença, assim regredindo em mais de cinco anos o avanço dos sintomas.

Isso dá mais qualidade de vida ao paciente. Ele resgata a própria autonomia para realizar tarefas cotidianas e, assim, adia o aparecimento de outros sintomas secundários da doença de Parkinson, como a depressão”, afirma a neurocirurgiã Dra. Alessandra Gorgulho, chefe da Divisão Clínico-Científica do HCor Neuro.

Segundo o Hospital do Coração (HCor), o Mal de Parkinson atinge cerca de 1% a população mundial, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), sendo que os pacientes geralmente tem idade igual ou superior a 50 anos. Conforme a idade avança, a prevalência da doença também se torna mais alta. Há estudos que apontam até 4% em populações acima de 65 anos.

O Mal de Parkinson está relacionado a queda na produção do neuro transmissor dopamina. Sem ela, a comunicação do cérebro fica comprometida, o que leva à perda de funções motoras e não motoras.

De acordo com o médico Antônio de Salles, o marcapasso cerebral também está sendo estudado para obesidade mórbida, indicado para os pacientes que esgotaram as possibilidades de tratamento, mesmo com a cirurgia bariátrica, ou àqueles que não querem fazê-la. “Encontramos uma área no cérebro que podemos aumentar o metabolismo basal do paciente. É como se fosse um exercício para aumentar o metabolismo e sem restrições na alimentação. O paciente perde peso lenta e continuamente até, por exemplo, regularizar índices de colesterol e glicemia“, explica o neurocirurgião.

Medicina - Antônio de Salles e Alessandra Gorgulho criaram o marca-passo cerebral
Antônio de Salles e Alessandra Gorgulho

Além disso, o marcapasso também está sendo estudado em uma pesquisa para o tratamento da depressão. A ideia é de que o equipamento estimule um nervo, geralmente durante a noite, e o paciente terá uma melhora considerável no quadro de depressão.

 

Mas outros médicos e cientistas brasileiros contribuíram e ainda contribuem para melhoramentos na medicina. Confira:

Manuel de Abreu

O paulista Manuel de Abreu foi responsável pela “abreugrafia”, um método para fazer radiografias do pulmão, criado em 1935. O exame foi utilizado no rastreamento da tuberculose e doenças ocupacionais pulmonares. O exame foi muito utilizado, pois era de baixo custo operacional e alta eficiência técnica.

Por ter feito uma grande contribuição à Medicina, Manuel de Abreu foi indicado ao Prêmio Nobel de Fisiologia / Medicina, no ano de 1946. Em 1974, a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou que o exame colocava os pacientes, desnecessariamente, em contato com doses de radiação e a técnica usada para detectar tuberculose foi modificada.Medicina - O paulista Manuel de Abreu foi responsável pela “abreugrafia

 

Adriana Melo

Do interior da Paraíba para uma descoberta que mudou o zika Vírus. Adriana Melo foi pioneira na identificação da relação entre a infecção pelo vírus da zika em grávidas e os casos de microcefalia em bebês.

A médica estranhou a quantidade de casos de fetos com microcefalia e, após receber uma nota alertando para o aumento nos casos da malformação em mulheres que tiveram manchas vermelhas, que seriam os sintomas de zika, durante os primeiros meses de gravidez.

Adriana pesquisou uma possível ligação entre os dois e após algum tempo, em amostras de sangue e tecidos de um bebê que morreu, foi identificada a presença do vírus da zika.

Em 2016, ela inaugurou sua sede própria do Instituto de Pesquisa Professor Joaquim Amorim Neto (Ipesq), o qual lidera em Campina Grande, interior da Paraíba.Medicina - Adriana Melo foi pioneira na identificação da relação entre a infecção pelo vírus da zika em grávidas e os casos de microcefalia em bebês

 

Vital Brazil

Mineiro da cidade de Campanha, Vital Brazil é considerado um dos grandes nomes da história da ciência. Ele foi médico, sanitarista e um dos primeiros pesquisadores de toxicologia nas Américas e de medicina experimental no país.

No século 19 e 20, Vital Brazil liderou diversos combates a epidemias que estouraram no país, como febre amarela, cólera, varíola e peste bubônica. Vital Brazil é pioneiro nas pesquisas que originaram os soros específicos contra venenos de animais peçonhentos, como serpentes, escorpiões e aranhas.

Em 1917, Vital Brazil recebeu a patente do soro antiofídico e decidiu, imediatamente, doá-la ao governo do país. Vital foi encarregado de controlar uma peste no Instituto Bacteriológico e com o êxito, ele transformou o local no atual Instituto Butantan.

Ele investiu na ampliação das atividades do instituto e logo após começar a usar o método com soros e vacinas, ganhou reconhecimento fora do Brasil.

O médico deixou seu legado com o Instituto Butantan e com o Instituto Vital Brazil, fundado em 1919. Ambas as instituições são referências na formação de pesquisadores, na produção de medicamentos e na divulgação e popularização das ciências no país.Medicina - Vital Brazil é considerado um dos grandes nomes da história da ciência

 

Aron de Andrade

O engenheiro mecânico Aron de Andrade, do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia de São Paulo, inventou em 2000, um órgão ligado ao coração natural e alimentado por um motor elétrico.

Antes dessa invenção, havia um procedimento no qual o coração tinha de ser retirado durante a operação e ser substituído pelo artificial, o que não durava muito tempo. Já o órgão criado por Aron não necessita que haja qualquer extração do órgão durante a cirurgia.

O coração artificial é um pouco maior que uma laranja e pesa 700g. O engenheiro mecânico pesquisou durante 14 anos e seu objetivo é de que o paciente tenha uma sobrevida até o recebimento do transplante cardíaco.Medicina - Aron de Andrade criou um órgão ligado ao coração natural e alimentado por um motor elétrico

 

Zilda Arns Neumann

Zilda Arns Neumann era médica pediatra e foi fundadora e coordenadora da Pastoral da Criança. Ela ajudou a criar o movimento que reduziu drasticamente a mortalidade infantil no Brasil, além de ajudar a propagar o uso do soro caseiro no país.

A simples solução composta de água, açúcar e sal evitou que crianças morressem de diarreia e desidratação. A mortalidade infantil caiu de 62 óbitos por mil para 20 por mil.

Zilda Arns faleceu em Porto Príncipe, no Haiti, enquanto estava em uma missão humanitária. Ela foi uma das vítimas de um terremoto violento que atingiu o país em 2010. Medicina - Zilda Arns Neumann era médica pediatra e foi fundadora e coordenadora da Pastoral da Criança

 

José Eduardo Sousa

O maranhense José Eduardo Souza é referência na história da cardiologia mundial. Ele foi o primeiro médico a realizar um cateterismo no Brasil e desenvolveu a técnica do stent farmacológico, que cura totalmente o paciente que sofre de doença arterial coronária.

Ele já foi homenageado no Annual Pulse of the City Gala, realizado pela Fundação de Pesquisa Cardiovascular de Nova Iorque.

Entre 2002 e 2012, cerca de 3 mil pessoas realizaram o procedimento desenvolvido por Souza. Os resultados positivos o levaram a ensinar a técnica em diversos países, como Estados Unidos, Austrália e China.

José Eduardo cursou medicina na Universidade Federal de Pernambuco, fez duas residências no Instituto Dante Pazzanese, sendo que de 1983 a 2004, José foi diretor técnico. É especializado em Cardiologia Pediátrica pela Harvard Medical School e em Arteriografia Coronária na Cleveland Clinic.Medicina - José Eduardo Souza é referência na história da cardiologia mundial

 

José Pedro da Silva

“O homem que mudou o mundo”. Foi assim que o americano Joseph Dearani, da Mayo Clinic, um dos mais conceituados centros de pesquisas médicas mundiais, apresentou José Pedro da Silva no encontro anual da Sociedade de Cirurgiões Torácicos, nos Estados Unidos, em 2012.

José Pedro da Silva é cirurgião cardiovascular com especialidade em crianças. Ele é o responsável por revolucionar a cirurgia de Ebstein, que corrige uma má-formação congênita que impede o sangue de circular pelos dois lados do coração.

Com a técnica do médico brasileiro é feito um cone com o tecido do próprio paciente, assim é possível que o sangue percorra seu caminho natural, evitando novas cirurgias. Antes do procedimento, o paciente precisava passar por operações a cada dez anos, sempre.

A técnica foi publicada no Journal of Thoracic and Cardiovascular Surgery, em 2007, e logo médicos dos principais centros de cardiologia do Japão e Inglaterra enviaram profissionais para aprender com ele.

Atualmente, José Pedro é recomendado pelo Children’s Hospital de Boston, ligado a Harvard, para casos complicados.

O médico estudou na zona rural, passou em medicina na Universidade Estadual Paulista, em Botucatu. Para se manter, trabalhava como fotógrafo. Depois de concluir a residência no Hospital do Servidor Público de São Paulo, foi para a Cleveland Clinic, referência mundial em cardiologia.Medicina - José Pedro da Silva é cirurgião cardiovascular com especialidade em crianças

 

Nise da Silveira

Nise da Silveira ficou conhecida pela luta antimanicomial e por ter implementado a terapia ocupacional e suas artes no tratamento das doenças psiquiátricas no processo terapêutico. Na época, eram usadas formas agressivas para o tratamento psiquiátrico, como o eletrochoque.

De Maceió, Alagoas, ela foi uma das primeiras mulheres a se formar em medicina no Brasil, em 1926. Inspirada em Carl Jung, um dos pais da psiquiatria, em 1940 Nise já era pioneira na terapia ocupacional, método que utiliza atividades recreativas no tratamento de distúrbios psíquicos.

Ela se destacou por usar a arte como uma forma de expressão e dar voz aos conflitos internos vivenciados principalmente pelos esquizofrênicos, que tiveram suas obras expostas em várias partes do mundo.

Nise da Silveira foi membro fundadora da Sociedade Internacional de Expressão Psicopatológica, sediada em Paris. Ela foi agraciada com diversas condecorações, títulos e prêmios em diferentes áreas do conhecimento.Medicina - Nise da Silveira ficou conhecida pela luta antimanicomial

 

José Osmar Medina Pestana

José Osmar Medina Pestana é o responsável e criador do Hospital do Rim, em São Paulo, que faz cerca de 900 procedimentos por ano. Quase 12 mil pessoas já foram transplantadas num período de 18 anos, e todas pelo sistema de saúde pública.

Essa marca faz do hospital o maior centro de transplantes público do mundo e o fez receber um prêmio em Harvard, em novembro de 2012, pelas mãos de Joseph Murray, Nobel de Medicina em 1990, o primeiro médico a realizar um transplante de órgãos na história.

Entre os 16 e 19, José Medina Pestana trabalhou como torneiro mecânico e durante o curso de graduação foi técnico de laboratório.Medicina - José Osmar Medina Pestana é o responsável e criador do Hospital do Rim

 

Silvia Brandalise

A médica Silvia Brandalise é pediatra e criou um hospital para tratar crianças com câncer. Além disso, ela conseguiu aumentar os índices de cura da leucemia infantil.

Segundo uma entrevista dada ao Jornal Hoje, Silvia conta que em 1978 ela mergulhou totalmente no universo da oncologia, pediu demissão do hospital onde trabalhava, alugou uma casa e criou uma clínica de tratamento do câncer infantil.

Como a procura era grande, a clínica foi para um lugar maior, mas mesmo assim faltava espaço para internar os pacientes. A médica diz que levava alguns pacientes para sua própria casa, para caber todo mundo.

Já na década de 1980, a doutora ganhou um terreno e um investimento de US$ 1,5 do Instituto Bosh para construir o Hospital Boldrini de Campinas, que hoje é referência no país para tratamento de câncer infantil e doenças do sangue.

Silvia, após o relato de muitos pacientes sobre o ambiente inóspito de hospitais, planejou o seu espaço pensando no conforto de quem está lá constantemente. Um lugar arejado, colorido, ambientes alegres, que de alguma forma ajudasse no tratamento. E foi feito. Atualmente são cerca de 9 mil crianças atendidas por ano e muitas pela própria Silvia Brandalise.

Os processos feitos no hospital se tornaram referência e salvaram vidas. No caso da leucemia em crianças de 4 a 6 anos, apenas 5% dos pacientes sobreviviam na década de 1970. Na década de 80 passou para 50%, na década de 1990 cerca de 70% de sobrevida e nos dias atuais esse número chega a 80%.Medicina - Silvia Brandalise criou o Hospital Boldrini

 

José Carlos Pachón Mateos – cientista e médico

Do laboratório do médico e cientista José Carlos Pachón Mateos saíram técnicas que facilitaram cirurgias no coração.

Mineiro de Uberaba, José Carlos é diretor do Serviço de Arritmia do HCor e também responsável pelo Setor de Estimulação Cardíaca Artificial do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia.

O médico é conhecido por criar técnicas capazes de curar arritmias graves com métodos pouco invasivos, devolvendo a vida normal do paciente com apenas três dias de repouso, em média. Antes disso, era preciso abrir o peito e o tórax dos doentes, que levavam meses para retornar à vida normal.

Um dos métodos é a estimulação cardíaca pelo esôfago, técnica aplaudida em congressos europeus e que é amplamente usada na França.Medicina - José Carlos Pachón Mateos criou técnicas capazes de curar arritmias graves com métodos pouco invasivos

 

Oswaldo Cruz – Médico e Sanitarista 

A pessoa que dá nome ao Instituto Oswaldo Cruz, ou FioCruz. O paulista se formou aos 20 anos pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.

Oswaldo Cruz inaugurou a pesquisa científica no Brasil, combateu a febre amarela implantando medidas sanitárias e identificou que doenças como peste bubônica, varíola e a própria febre amarela matavam e precisavam ser prevenidas.

Foi diretor do Instituto Soroterápico Federal durante 14 anos, que depois se tornou Instituto Oswaldo Cruz. Em 1907, ganhou a medalha de ouro no 14º Congresso Internacional de Higiene e Demografia de Berlim e foi eleito em 1912 para a Academia Brasileira de Letras.Medicina - Oswaldo Cruz inaugurou a pesquisa científica no Brasil

 

Angelita Habr-Gama

Nascida na Ilha de Marajó, no Pará, Angelita Habr-Gama entrou para a história por ser a primeira cirurgiã graduada pela USP, entrando na universidade da década de 1950.

Ela liderou diversos estudos nas áreas de gastroenterologia, coloproctologia e cirurgia digestiva. Ela fundou a Associação Brasileira de Prevenção ao Câncer de Intestino, além de ser a primeira mulher latino-americana a fazer parte da Associação Europeia de Cirurgia.

Nos cerca de 60 anos de carreira, Angelita já recebeu mais de 50 prêmios científicos e foi nomeada membro honorário de oito associações mundiais. Além disso, conquistou o Prêmio Mulheres Mais Influentes Forbes Brasil 2006 pela Revista Forbes Brasil.

E sua carreira está longe do fim. Ela é professora titular de cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, e cirurgiã no Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo. Medicina - Angelita Angelita Habr-Gama entrou para a história por ser a primeira cirurgiã graduada pela USP