Ku Klux Klan: Entenda a história do maior grupo racista dos Estados Unidos

25 jan | 12 minutos de leitura

A veste branca que assombra a história do país norte-americano

O capuz cônico, a vestimenta branca, a cruz pegando fogo, terrorismo, intimidação. Essas são apenas algumas palavras que resumem o que é a Ku Klux Klan. Mesmo tendo começado as atividades em 1865, ela está ativa até hoje, apesar de mais controlada.
Para você que não entende como o grupo Ku Klux Klan agiu, vamos te explicar. Ku Klux Klan - Grupo norte-americano ainda causa desconforto em muitas pessoas

Ku Klux Klan: Entenda a história do maior grupo racista dos Estados Unidos

Origem

A Ku Klux Klan é uma organização que foi criada no Tennessee, Estados Unidos, no final do século 19, em 1866, um ano após o fim da Guerra Civil Americana (1861-1865). Nas batalhas, os territórios do sul do país disputavam com os territórios do norte, que saíram como os vencedores. 

As políticas de reconstrução prezavam a implantação de leis abolicionistas, concedendo a liberdade aos escravos. Os territórios do sul do país possuíam os escravos como a principal mão de obra agrária e isso levou um grande prejuízo para os senhores, pois perderam a mão de obra e os escravos em si, já que eram uma das mercadorias mais valiosas da época.

Conhecida como KKK ou Klan, ela foi fundada como um clube social que reunia soldados que haviam lutado pelos estados do Sul. As palavras “Ku Klux” vem da palavra grega “kyklos“, que significa “círculo”. Já “Klan” seria uma referência aos clãs familiares tradicionais. O grupo se reunia com a crença de que o “homem branco” era superior e a supremacia branca deveria existir.

 

O começo dos ataques e primeira fase

Há que diga que os ataques começaram com os integrantes pregando peças à população. Eles faziam cavalgadas noturnas, vestidos de branco e usando carapuças para que não fossem reconhecidos. Com essas atitudes, o grupo passou a ficar famoso em todo o território e quem também apoiava a supremacia branca, começou a fazer parte do Klan.

O grupo terrorista foi responsável por cometer atos violentos, como incêndio de casas habitadas por afro-americanos, espancamentos, enforcamentos e roubos, já que o grupo costumava entrar nas casas de negros para roubarem suas armas.

Em 1869, o grupo ficou com fama de ter uma reputação violenta. Isso começou a afastar os membros com poder político e deu lugar a criminosos e pessoas de menor poder. A Klan sofreu com disputas internas e isso fez com que o grupo se dividisse, perdendo as forças. Com isso, o primeiro líder Nathan Bedford Forrest decidiu acabar com a organização e esse foi o primeiro enfraquecimento da KKK, porém ainda existiam pequenos grupos derivados. 

Em 1870, o governo resolveu enfrentar a Klan e em 1882, a Suprema Corte do país declarou ilegal a existência da organização.                                                                                                                                                                           

As ramificações e segunda fase

Foi em meados do século 20 que a KKK voltou a vida. Um dos motivos para isso foi o lançamento do filme “O Nascimento de uma Nação”, de D.W. Griffith. Baseado no livro The Clansman, de Thomas Dixon Jr..

O filme aborda os membros da Klan como heróis, representados por cavaleiros que lutam com bandidos negros e queimam cruzes. Mesmo sendo extremamente racista, o filme fez muito sucesso e para divulgar a produção em algumas cidades, atores se vestiam como os membros da KKK e cavalgavam em frente aos cinemas antes da estreia. Foi William Simmons, um representante comercial que resolveu recriar a organização para obter altos lucros.

A produção também foi exibida na Casa Branca, recebendo elogios do presidente democrata Woodrow Wilson.

Outro ponto importante para o ressurgimento da Klan foi o estupro e assassinato de uma garota chamada Mary Phagan. Em 1915, o judeu Leo Frank foi condenado pelo crime. Diversas pessoas viam semelhanças com uma personagem do filme, Flora, que se jogou de um abismo para evitar ser estuprada por um negro.

Com o apoio de jornais sensacionalistas e uma sociedade cheia de preconceitos, o caso voltou com a onda anti-semita. William Simmons reuniu um grupo que foi chamado de Cavaleiros de Mary Phagan, que sequestrou Frank da cadeia e o linchou. Com os mesmos Cavaleiros, William formou o “coração” da nova Klan, agora chamado de Cavaleiros da Ku Klux Klan. O grupo praticou todos os rituais mostrados no filme, especialmente queima das cruzes.

A princípio, o grupo não recebia a atenção que queria e se limitou ao estado da Geórgia. Mas foi com a 1ª Guerra Mundial, entre 1914 e 1918, o grupo conseguiu o que faltava.

 

1ª Guerra e o Klan

Com a 1ª Guerra, muitos imigrantes europeus foram para os Estados Unidos, fugindo dos combates e da crise econômica que assolava os países. A maioria dos imigrantes eram judeus e católicos e isso gerou um impacto cultural, religioso e econômico no país norte-americano.

Após a volta dos soldados dos combates, o país estava fervendo e muitos viram a Klan como uma forma de defender e proteger os interesses dos nativos do país. Então, além da perseguição aos negros, começou a opressão aos imigrantes, judeus, comunistas e católicos.

O quartel-general do novo grupo ficava em Atlanta, como um grupo muito organizado, sendo registrado legalmente, pagando imposto e com reconhecimento jurídico. O que continuava errado era a intimidação, assassinato, tortura e linchamento.

A Klan cresceu e se tornou uma das maiores organizações do país. Em alguns estados, cerca de 40% da população fazia parte da KKK. Para se ter uma ideia, a Klan criou filiais na Inglaterra, Alemanha, Canadá e África do Sul.

Além da perseguição aos negros e pessoas de outras religiões, o grupo também aparecia em bordéis, procurando mulheres imorais, homossexuais e até jovens que eram surpreendidos fazendo sexo dentro de carros.

 

Aos poucos desapareceu

Assim como na primeira fase, a força da Klan foi sumindo aos poucos devido a atitudes de seus próprios membros. O caso mais marcante foi de David Stephenson, chefe da Klan em Indiana, que foi preso por estuprar e assassinar uma professora. Durante o julgamento, os detalhes do caso chamaram atenção: David feriu sua vítima de tal forma que, segundo os legistas, ela parecia ter sido atacada por lobos.

Além disso, foi provada a ligação de David e de alguns chefões da Klan com um grande esquema de corrupção envolvendo o governador de Indiana e o prefeito de uma cidade, que apoiavam o grupo. Os casos tiveram grandes coberturas da mídia e causou uma péssima imagem para a Klan, o que fez cair o número de sócios.

Antes da crise, a KKK contava com aproximadamente 5 milhões de membros e, após a crise em 1930, cerca de 30 mil membros faziam parte do grupo.

 

2ª Guerra e uma queda drástica

A Klan passou pela 1ª Guerra e estava passando pela 2ª. Era notável que a KKK apoiava a batalha conta os japoneses, mas a ligação com o nazismo eram evidentes e isso pesou para a reputação do grupo.

Segundo o portal Superinteressante, um dos responsáveis pela queda da KKK na segunda fase foi Stetson Kennedy, escritor e ativista dos direitos humanos. Kennedy possuía uma grande raiva pelo grupo, desde que sua ama-de-leite negra foi assassinada pelo grupo por falar com um condutor de bonde que lhe dera o troco errado e, em 1944, ele resolveu se infiltrar na Klan.

Kennedy procurou uma taverna, local onde os membros da KKK frequentavam, ganhou a confiança deles e foi aceito como sócio. Durante pouco tempo, Kennedy aprendeu todos os códigos, palavras secretas e os rituais.

O que ele fazia com isso? Passava essas informações para os produtores do programa de rádio do Superman.

O resultado? Uma série de quatro episódios onde o super-herói enfrenta e vence os integrantes da Klan.

O que aconteceu? A KKK foi desmoralizada, já que teve seus segredos revelados. A fama de terror do grupo passou a ser motivo de ridicularização e piada. Muitos sócios foram saindo e a organização ficou sem dinheiro para pagar os impostos, o que foi fatal. Com isso, a Klan teve que decretar falência e foi obrigada a encerrar as atividades em 1944.

 

Como é a KKK atualmente?

A terceira e última fase do KKK começou por volta de 1950 como resposta ao crescimento de afro-americanos que lutavam por direitos civis dentro dos Estados Unidos. Essa fase dura até hoje, mas sem a força e o poder que tinha nos anos 20.

Em um relatório divulgado pela Liga Antidifamação, que monitora grupos radicais em território americano, praticamente decretou o fim da Ku Klux Klan. Hoje, existem ainda cerca de 100 a 150 grupos que se denominam herdeiros da Klan, mas nada com a força e violência que possuíam.

Atualmente, o grupo apenas distribui panfletos, fazem marchas de protestos e realizam encontros anuais. O dinheiro é pouquíssimo e a influência na política não existe mais. Segundo a Superinteressante, há apenas o senador Robert Byrd, que foi membro do grupo há quase 50 anos e diz se arrepender profundamente.

Outros integrantes aderiram a outros grupos ainda mais violentos para defender a supremacia branca, como a Nação Ariana. Há ainda os Klans Imperiais da América, o Cavaleiros Americanos da Ku Klux Klan e o Cavaleiros da Camélia Branca da KKK. Eles possuem forte inclinação cristã fundamentalista e acreditam que exista uma conspiração judaica para dominar o mundo.

Já outros grupos, tentam fazer de sua imagem algo mais aceitável, criando eufemismos. Eles falam mais da “glória de sua herança branca” do que no ódio por outras raças, definindo-se como ‘racialista”.

 

Racismo e Racialismo? Existe diferença?

Tecnicamente sim. O racismo prega a superioridade de uma raça sobre a outra. Já o racialismo diz que elas são iguais, mas devem viver separadas. E é baseado nesse conceito que existem os supremacistas negros que apoiam grupos inspirados na KKK. Segundo eles, apoiar a Klan é dar força ao movimento racialista e, com isso, fortalecer a ideia de separação entre as raças.

Hoje, segundo o historiador Allen Trelease, o fato de ainda ter teses e apoiadores, é sinal de que as tensões raciais e sociais continuam fortes nos Estados Unidos e nunca se pode descartar o risco do ressurgimento de um grupo baseado nas ideias da Klan. O escritor Michael Newton, segundo a Superinteressante, acredita que alguns temas, como a imigração mexicana, possuem potencial para despertar problemas similares.

 

Ku Klux Klan e o Brasil

Mesmo já possuindo filiais no Canadá, Inglaterra e outros países, no Brasil nunca foi para frente. Mas em 2015 um fato chamou atenção. Na cidade de Niterói, foram encontrados cartazes espalhados pela cidade, pregados em postes, com uma ideologia similar a da KKK. Os cartazes tinham mensagens de intolerância racial, religiosa e sexual. Fazendo ameaças a muçulmanos, homossexuais e judeus, o papel era assinado por um grupo: “Imperial Klans of America Brasil”, que claramente faz alusão a organização norte-americana.

Segundo a Supertinteressante, o grupo chegou a ser desmantelado em 2003, quando a Polícia Federal prendeu o líder da organização e tirou o site do ar. Tirando esse grupo, sobram os skinheads (cabeças raspadas), que possuem ideologias neonazistas e acreditam no conceito white power (“poder branco”), ou seja, a superioridade dos brancos sobre as demais raças. São totalmente contra negros, nordestinos e homossexuais.

Ku Klux Klan - Panfletos com alusão a ideologia do KKK apareceram em Niterói

Ku Klux Klan - Panfletos com alusão a ideologia do KKK apareceram em Niterói

 

‘Ele soa como nós’

Se você prestou atenção nos noticiários na época da eleição brasileira, você deve ter escutado essa frase: “Ele soa como nós. E também é um candidato muito forte. É um nacionalista“. O responsável por isso foi David Duke, ex-líder da Ku Klux Klan, sobre o então candidato a presidência Jair Bolsonaro.

Segundo o portal BBC, David Duke ainda disse: “Ele é totalmente um descendente europeu. Ele se parece com qualquer homem branco nos EUA, em Portugal, Espanha ou Alemanha e França. E ele está falando sobre o desastre demográfico que existe no Brasil e a enorme criminalidade que existe ali, como por exemplo nos bairros negros do Rio de Janeiro“, afirmou Duke.

Mesmo apoiando Bolsonaro, Duke fez uma ressalva: “Ele vai fazer coisas a favor de Israel, e acredito que ele esteja tentando adotar a mesma estratégia que Trump: acho que Trump sabe que o poder judaico está levando a América ao desastre, levando a Europa e o mundo ao desastre. Então, o que ele está tentando fazer é ser positivo em relação aos judeus nacionalistas em Israel como uma maneira de obter apoio“, disse o americano.

Jair Bolsonaro usou as redes sociais para mostrar sua opinião em relação ao apoio de Duke. Ele escreveu: “Recuso qualquer tipo de apoio vindo de grupos supremacistas. Sugiro que, por coerência, apoiem o candidato da esquerda, que adora segregar a sociedade. Explorar isso para influenciar uma eleição no Brasil é uma grande burrice! É desconhecer o povo brasileiro, que é miscigenado.”

Ku Klux Klan - Jair Bolsonaro recusa apoio de David Duke

 

Apoio a Donald Trump

Em novembro 2016, quando os Estados Unidos se preparavam para eleger Donald Trump, eis que um jornal do Ku Klux Klan, o “The Crusader”, declarou apoio ao candidato republicano, dizendo que os EUA se tornaram grandes porque foram uma república branca e cristã.

A campanha de Trump logo deu um jeito de rejeitar o apoio dizendo em um comunicado: “Trump e a campanha denunciam o ódio em qualquer forma. Essa publicação é repulsiva, e as suas visões não representam as dezenas de milhões de norte-americanos unidos na nossa campanha”.

Em fevereiro do mesmo mês, o ex-líder do KKK, David Duke, já tinha manifestado apoio a Trump, dizendo que as pessoas brancas estavam ameaçadas nos Estados Unidos e que ele ouvia as suas visões ecoarem na retórica do então candidato. Trump recebeu diversas críticas porque não rejeitou rapidamente o apoio. Quando o candidato se manifestou, disse que mantém distância do ex-líder do KKK e se referiu a Duke como “um cara ruim“. Duke não desistiu e continuou apoiando Trump nas redes sociais e em entrevistas.

Ku Klux Klan - Trump já recebeu apoio do KKK e de David Duke
Em fevereiro de 2016, o jornal norte-americano The New Youk Times publicou a charge acompanhada da frase: “A new face on an old story“.